domingo, 28 de setembro de 2008

Cegueira

Não, a imagem acima não está demorando para carregar, nem está com problema. Essa era exatamente a nossa 'vista' no restaurante em que fomos na última 4a-feira: breu total! E não era escurinho ou penumbra não... Bem propicio, já que estou na fissura para assistir Blindness, que ainda não estreou por aqui. A Letícia, uma prima do Flávio, esteve aqui e nos falou desse lugar, o Unsicht-bar (Invisível), onde tudo é absolutamente escuro e os garçons são cegos. Já tinha ouvido falar, mas nem sabia que ficava em Berlim. A idéia é, na falta da visão, explorar os outros sentidos durante uma refeição. Fomos lá conferir... e a experiência é realmente impressionante, muito mais forte do que eu imaginava!

Na recepção, ainda iluminada, escolhe-se o tipo de prato que se quer, vegetariano, carne de frango, carneiro ou vaca ou, ainda, menu surpresa. Mas não se sabe o que ao certo será servido. Então um garçom nos levou em fila indiana através de uma passagem para o salão... foi um choque! A mudança é muito repentina e, mesmo seguindo a pessoa à frente, perdemos completamente qualquer referência. Dá uma angústia... A Le quase pediu para sair, o Flávio não parava de rir e eu achava que a cada passo ia dar uma trombada ou meter a cara na parede! Mas fomos levados à mesa sem maiores problemas e por meio do tato foram mostradas onde estavam as coisas. Podíamos ouvir pessoas ao redor conversando, música ambiente... E foram trazidos: salada, sopa, prato principal e sobremesa. O garçom ia indicando o que fazer e dando dicas, como para servirmos água e vinho. O detalhe de um lado da mesa encostado em uma parede, contra a qual colocávamos as garrafas, facilita bem e evita maiores acidentes. Apesar da estranheza inicial, aos poucos fomos nos acostumando com o fato de não saber o que estávamos comendo e, nem ao menos, onde exatamente estava a comida. O jeito foi ajudar com as mãos... Logo já estávamos até trocando pratos para experimentar coisas diferentes e tentar adivinhar o que era de cada um. O melhor era aos poucos ir descobrindo o que estava no prato, os sabores, as texturas, tudo uma delícia. Programa de índio? De jeito nenhum. Foi muito divertido, mas ao mesmo tempo pertubador... Assim como a volta à luz...

Não pude deixar de pensar não apenas no livro do Saramago, mas também no projeto que fizemos de uma casa para um cego. Na época, conversamos com alguns deficientes visuais, que nos deram dicas e pudemos entender melhor como vivem e quais as maiores dificuldades que enfrentam. Mas eu nunca havia vivenciado algo semelhante. Realmente, a partir do momento que conseguimos identificar certas referências, tudo se torna muito mais fácil. Claro, como em tudo na vida...

Depois, para digerir a experiência, ainda fomos ao Ici, um barzinho ótimo que fica por perto, para uma cervejinha com a Andy, americana que fez o curso em Dresden comigo e veio passar dois dias em casa para prestar um exame na Frei Universität. Uma cervejinha que no fim da noite até o pessoal que trabalha no bar se mudou para a nossa mesa! Que noite... :)

Cara de acabados no dia seguinte...
De mais, as folhas ficaram avermelhadas, está fazendo frio e a coisa só vai piorar. Como o verão é bom! De qualquer forma, como é bom poder ver e experimentar tudo isso...

2 comentários:

Silvio disse...

tão servindo jantar no dark room?????

Marcio Novaes Coelho Jr disse...

hahahahaha.............